O Vale do Silício já é conhecido a muitos anos como a “meca das startups”. Porém, nos últimos anos isso tem mudado e o Canadá está se destacando cada vez mais, competindo inclusive com outros grandes centros de inovação e tecnologia, como o Vale do Silício. Quer saber mais sobre o tema? Basta continuar a leitura!
Alguém precisa dar o primeiro passo
Dez anos atrás, quando o empresário de Toronto, Brendan Frey, queria começar sua empresa, ele disse: “as condições não estavam certas”.
Mas em 2015, ele descobriu que o ambiente local havia se tornado muito mais hospitaleiro para as empresas iniciantes. Então, ele lançou a Deep Genomics, uma empresa de medicina genética que usa inteligência artificial para descobrir e avançar terapias para doenças genéticas raras.
Frey, professor de engenharia e medicina da Universidade de Toronto, desenvolveu a tecnologia na universidade e lançou sua startup no MaRS, um hub com mais de 200 parceiros no mundo corporativo, governamental e acadêmico que ajuda a conectar as startups com financiamento e consultoria.
“Nos últimos cinco ou seis anos, tem havido uma tendência crescente da universidade ser aberta a sua propriedade intelectual, em termos de deixar as empresas saírem da universidade e levarem sua PI com elas”, diz Frey.
“A Universidade de Toronto e outras universidades no corredor de Toronto, Waterloo, Montreal reconheceram que, se forem mais abertas a permitir que seus investigadores tirem seu IP, há uma chance muito boa de que esses pesquisadores criem novas empresas no Canadá que trarão muitas riquezas no sistema de inovação.”
Tendo levantado $20 milhões de dólares em financiamento e contratado 40 funcionários, a Deep Genomics acaba de declarar um “Drug Candidate” – um tratamento para o raro e potencialmente fatal distúrbio genético Wilson Disease – e planeja lançar outros nove candidatos no próximo ano.
Frey acredita que a localização da empresa impulsionou seu sucesso.
A Deep Genomics tira proveito do Programa de Pesquisa Científica e Desenvolvimento Experimental, através do qual o governo canadense cobre cada dólar do salário que a empresa paga aos trabalhadores envolvidos em pesquisa e desenvolvimento. “O Canadá tem um dos programas mais fortes para incentivar as empresas baseadas em tecnologia a florescer”, diz ele.
Como o Canadá passou a competir para ser a meca das startups
Frey não é o único otimista no ecossistema empreendedor no Canadá. Ideias inovadoras de negócios estão surgindo nesta meca emergente que agora rivaliza com o Vale do Silício. Não surpreende que cinco empresas canadenses tenham apresentado a lista CNBC Upstart 100 de 2019, divulgada na terça-feira.
O ranking das startups mais promissoras do mundo incluiu a Deep Genomics; Attabotics, Calgary; Nobul, Toronto: Cmd, Vancouver e; RenoRun, Montreal. Coletivamente, esses calouros arrecadaram mais de $77 milhões de dólares em capital de risco.
Investidores canadenses
O sucesso do financiamento é indicativo de um fenômeno mais amplo. Os fundos canadenses de capital de risco investiram cerca de US $2,2 bilhões em 249 financiamentos no primeiro semestre de 2019, de acordo com o Canadian Venture Capital Report, publicado pela CPE Media Analytics. O crescimento foi impulsionado por ampliações como a Sonder Canada, parceira do Airbnb, que levantou o equivalente a US $250 milhões em financiamento no verão passado, segundo o relatório.
A CPE Media previu que os desembolsos de Investidores de risco canadenses estavam a caminho de atingir US $5 bilhões pela primeira vez desde 2000. Com o empreendedorismo em atividade, a Tech Toronto, uma comunidade de empreendedores, agora estima que existam entre 2.500 e 4.100 start-ups ativos de tecnologia apenas em Toronto.
Grandes empresas de tecnologia como Airbnb, Facebook e Google estão presentes em cidades como Montreal e Toronto, aumentando a energia do ecossistema empreendedor. “Eles investem na comunidade”, diz Eamonn O’Rourke, CEO da RenoRun, com sede em Montreal, uma empresa de tecnologia que oferece entrega sob demanda de materiais de construção.
E mais investimentos corporativos continuam fluindo. A Intel anunciou planos para construir um laboratório de design de chips gráficos em Toronto, a maior cidade do Canadá. A escolha de Toronto foi uma jogada estratégica para a Intel, que foi atraída pelo próspero cenário tecnológico da cidade, pois todos, da NVIDIA à Samsung, abriram laboratórios de IA ou de pesquisa na cidade no ano passado. A Technologies também abrirá um enorme centro de engenharia lá.
Isso não significa que ninguém vê espaço para melhorias. Mais de 100 CEOs canadenses escreveram recentemente uma carta ao Primeiro Ministro Liberal Justin Trudeau, Líder do Partido Conservador Andrew Scheer, Líder do Novo Partido Democrata Jagmeet Singh e Líder do Partido Verde Elizabeth May dizendo que esses partidos precisam facilitar o acesso das empresas de tecnologia do país para capital, clientes e talento.
“Quando se trata de capital de crescimento, a maior parte do capital é proveniente dos EUA”, observa Regan McGee, CEO da Nobul, um mercado online que conecta compradores e vendedores de imóveis.
A startup de três anos, sediada em Toronto, levantou US $20 milhões de empresas como Westdale, Symetryx, McGee Capital e outras e lançou seu serviço no Canadá e nos EUA.
Um ambiente que promove a inovação
Outro motivo para que o Canadá esteja sendo considerado uma meca da startups é o fato de que muitos empresários dizem que o país ainda tem muito a oferecer. Entre os exemplos está seu rico conjunto de talentos, alimentado por um forte sistema universitário e políticas de imigração que permitem que muitos imigrantes com alto nível educacional venham ao Canadá.
“As universidades estão lançando candidatos fantásticos, prontos para trabalhar no meio ambiente, gerando muita inovação em empresas em estágio inicial como a minha, diz Jake King, CEO da Cmd, empresa fundada em Vancouver em 2016 que ajuda os clientes a proteger seus servidores Linux. A Cmd emprega cerca de 35 funcionários, sendo 25 no Canadá.
Em sua própria área local, King encontra talento entre os graduados da Universidade da Colúmbia Britânica, da Universidade de Vancouver e da Simon Fraser University. Muitos foram expostos ao empreendedorismo enquanto estavam na escola, ele constata.
“As universidades promovem idéias e métodos de pensamento realmente inovadores”, diz King. “Existe um espírito empreendedor – um desejo de construir algo bem e pensar nos problemas de uma maneira diferente”.
King, que é originário da Austrália, acha que a vibração é semelhante à de seu país natal, também conhecido por sua forte comunidade empreendedora.
O conjunto de talentos
E há rivalidade pelo talento no Canadá, diz King, não é esmagador. “Não há tanta concorrência quanto Nova York ou São Francisco”, diz ele.
McGee, da Nobul, teve uma experiência igualmente boa na equipe de sua empresa, que ele fundou em Toronto em 2017.
Ele achou fácil encontrar recém-formados e imigrantes com as qualificações certas em STEM.
“É um bom ambiente quando você está tentando fazer algo que requer engenharia e tecnologia”, diz McGee. “O conjunto de habilidades das pessoas aqui é de primeira classe. Você obtém o melhor dos melhores do mundo todo. ”
E os salários não são astronômicos, dado que o Canadá tem um custo de vida menor que o do Vale do Silício. “Ninguém em nossa empresa ganha mais de US $100.000 por ano”, diz McGee.
Outro fator que dá às startups canadenses uma vantagem é o sistema de saúde financiado pelo governo do país, ele constata. “Não precisamos pagar pela assistência médica de nossos funcionários, o que pode ser uma grande vantagem”, diz McGee.
A extensa rede de incubadoras e aceleradoras do país cria lugares interessantes para as equipes de startups trabalharem, afirmam empresários. A RenoRun, empresa que permite que empreiteiros solicitem e recebam materiais de construção sob demanda diretamente no local da obra, por exemplo, começou na Notman House, um edifício de 200 anos que foi convertido em epicentro de tecnologia no coração de Montrea. O escritório começou em um espaço de 10 x 10 pés, com cinco pessoas. “Agora estamos em um espaço de 10.000 pés quadrados com 90 pessoas”, diz O’Rourke.
Ele relata que trabalhar na Notman House mantém a inspiração fluindo.
Além de tudo a localização do Canadá, com voos rápidos para os EUA, facilita as empresas iniciantes manterem contato com investidores dos EUA. No ano passado, McGee estima que 30 grandes investidores e fundos de investimentos dos EUA vieram se encontrar com ele. “Eles têm os recursos para seguir o espaço”, diz McGee.
Mas ele espera ver mais dinheiro fluindo de investidores canadenses para o ecossistema local, à medida que empreendedores locais de sucesso saem de empresas iniciantes e começam a investir.
“Acho que isso cria um volante”, diz O’Rourke. “Ter fundadores que ganharam dinheiro ou tiveram uma saída que estão dispostos a investir na cidade significa mais fundadores que tentarão se lançar na cidade”.
E você, que tal aproveitar para juntar-se a nova meca das startups? Nós podemos ajudar!
Fonte: CNBC